segunda-feira, 3 de julho de 2017

Judaísmo e Cristianismo: as práticas judaizantes na igreja evangélica neo-pentecostal brasileira

Trabalho Final para a disciplina “Tópicos de História Política e das Instituições”


Réplica da Arca da Aliança sendo vendida no 

Este trabalho busca introduzir a questão das igrejas que misturam rituais e símbolos judaicos, com preceitos cristãos, as chamadas igrejas “judaizantes”. Fato este, que acontece desde o período neo-testamentário. No entanto, o trabalho terá como foco as igrejas evangélicas neo-pentecostais contemporâneas.






Do Judaísmo para o Cristianismo


Que Jesus Cristo era judeu, todos que conhecem a história, sabem. No entanto, como descrito no livro de Atos dos Apóstolos, seus discípulos, que também era judeus, deram origem a uma nova religião: o cristianismo. Ela rompia com as tradições e rituais exigidos pela “Lei de Moisés”. A nova religião monoteísta, valoriza a fé e não possui ritos, mas sim, regras de convívio e de moral, baseadas nos ensinamentos de Jesus.
Em Mateus 5:17-18, Jesus disse

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”


As festas e leis instituídas no Antigo Testamento eram sinais do que haveria de acontecer com a vinda de Jesus. As festas tinham o significado físico, mas também material, como por exemplo, a Páscoa, que significa a libertação (do Egito e espiritual).
Inclusive, no Evangelho de João, o próprio Jesus instaura uma nova lei: amar uns aos outros, como Ele nos amou. Já, na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo reforça esse preceito de Cristo e ainda conclui: “(...) o cumprimento da lei é o amor” (Romanos cap. 13 vers. 10).
Portanto, como dito anteriormente, o cristianismo inaugura uma nova fase, com menos rituais e simbologias, eliminando sacrifícios de animais e demasiadas restrições alimentares e exigindo novas responsabilidades na conduta da vida cotidiana. Inclusive, na aceitação dos gentios (povos não-judeus), que se converteram ao cristianismo.


Judaizantes no período neo-testamentário
Mesmo nos primórdios, quando os apóstolos ainda ensinavam os novos preceitos, existiam aqueles que ainda buscavam a salvação pela Lei. Paulo, por exemplo, abordou o problema doutrinário em sua carta aos Gálatas. O fato acontecia, muitas vezes, por influência de judeus que se converteram ao cristianismo e, como eram circuncidados, entendiam que os gentios também deveriam ser, além de exigirem que seguissem outras regras determinadas no judaísmo.
Mas, o apóstolo Paulo reforça que essa prática já não condizia com os novos preceitos ensinados por ele e pelos outros “pais” da Igreja Primitiva. A vinda de Jesus, seus ensinos e sua obra, seriam suficientes para que todos aqueles rituais fossem deixados para trás.
No versículo 16 do 2º capítulo da carta de Paulo aos Gálatas, o apóstolo deixa claro que a lei não serve mais para justificar o homem. “(...) também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado”. No 3º capítulo da mesma epístola, no versículo 13, Paulo alerta: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós”.
Por isso, devido aos contratempos que aconteciam por causa dessas diferenças ritualísticas entre judeus e gentios convertidos ao cristianismo, os apóstolos da Igreja Primitiva se reuniram em Jerusalém (Atos dos Apóstolos cap. 16 vers 6-29) e decidiram sobre como os gentios deveriam se comportar nessa nova fé, já que não precisariam cumprir as leis que os judeus guardavam. Ficou decidido que era necessário se abster das relações sexuais ilícitas, das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas.

Os Judaizantes da atualidade
O assunto é amplamente conhecido nas igrejas atuais. Existem as pessoas que combatem tais práticas e as que defendem. Os que praticam, fazem uso excessivo de símbolos da fé judaica, como, shofar, bandeira de Israel, Menorah, Talit e a observância das festas judaicas. Denominações neopentecostais contemporâneas são as que, em grande parte, realizam eventos e mensagens de cunho judaizante.
Ainda nessa teoria, de acordo com o músico e pastor, Sóstenes Mendes Xavier, autor do livro “As Festas do Senhor”, as sete celebrações instituídas por Deus no Antigo Testamento estão divididas em três temporadas e podem ser aplicadas na vida de Jesus e dos cristãos. Em toda sua obra, o autor orienta a prática das Festas, nos dias indicados na Bíblia e com as músicas e danças respectivas. Para ele, é uma volta aos ensinos primordiais de Deus, ao mesmo tempo em que fala que isso não é ser judaizante. Sóstenes também ressalta a importância da comunhão entre judeus e gentios.
Certas igrejas promovem tais Festas, fazem réplicas da Arca da Aliança, do Tabernáculo, pastores pregam vestidos com Talit, entre outros rituais. Esses líderes e comunidades baseiam tais atitudes a partir do slogan “Sair de Roma e voltar para Jerusalém”, que seria uma referência à necessidade de voltar às origens da Igreja. Líderes como Valnice Milhomens e Apóstolo Renê Terra Nova são os mais famosos divulgadores dessa prática no Brasil. 

 
Terra Nova, apóstolo do Ministério Internacional da Restauração, igreja localizada em Manaus/AM, em 2010,  envolveu-se em uma grande polêmica, quando auto intitulou-se “patriarca”, lembrando o chamado de Deus a Abraão. No evento, foi dito que o apóstolo era pai de uma nova visão para o país (Visão Celular no Modelo dos 12), e, por isso, recebia o título. Foram apresentados estandartes e bandeiras das 12 tribos de Israel, dos estados brasileiros e, inclusive, contou com a participação do presidente da ICEJ, Embaixada Cristã Internacional de Jerusalém, Malcolm Hedding, que declarou que Israel também reconhecia o legado patriarcal do apóstolo.

Entre os exemplos no Brasil, o maior é o da Igreja Universal do Reino de Deus. Em 31 de julho de 2014, a denominação inaugurou o maior espaço religioso do país, com 100 mil m². O local é denominado “Templo de Salomão”, sendo uma réplica do templo de mesmo nome indicado na Bíblia. O espaço ainda conta com o “Jardim Bíblico”. A propaganda no site relata:
“Um passeio temático e único no mundo. Visitantes regressam ao passado para conhecer a réplica fiel do Tabernáculo de Moisés, entrar no Memorial dos Templos de Jerusalém e caminhar pelo Jardim das Oliveiras Centenárias. Um pedaço da Terra Santa no Brasil.”

As fotos abaixo são do “Templo de Salomão”.

Na noite de inauguração, homens vestidos de sacerdotes carregaram uma réplica da Arca da Aliança pelas ruas do bairro do Brás, em São Paulo.

Templo de Salomão está localizado no bairro do Brás, em São Paulo








O Bispo Edir Macedo recebeu os fiéis adornado por um Talit e com as réplicas das tábuas dos Dez Mandamentos atrás do púlpito.

Conclusão

O pastor Renato Vargens explica sobre o porquê das leis não valerem para o cristianismo:

“As leis cerimoniais judaicas, os ritos sacrificiais, as festas anuais, foram abolidas definitivamente por Cristo na cruz do calvário (o significado de cada uma delas se cumpriu em nosso Senhor). Por esse motivo, mesmo os judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão dispensados das leis cerimoniais judaicas. É por esta razão que crentes em Jesus, não fazem sacrifícios de animais, não guardam o sábado, não celebram as festas judaicas, não se prostram diante a Arca da Aliança e nem tampouco fazem uso do shofar.”

Para o missionário da Junta de Missões da Convenção Batista Nacional, Luis A. R. Branco, a apreciação atual dos cristãos pela Terra Santa e pelo povo judeu, gera uma importação exagerada dos costumes judaicos, o que fere a orientação apostólica da Igreja Primitiva, dos reformadores e do próprio Jesus. Na epístola aos Gálatas capítulo três, versículo 11, na Bíblia Sagrada, Paulo reforça que, pela Lei, ninguém será justificado diante de Deus.
Com tudo isso, conclui-se que os símbolos judaicos utilizados em abundância dentro de algumas igrejas neo-pentecostais contemporâneas são desnecessários para a prática do cristianismo pregado pelos apóstolos. Os líderes que praticam tais coisas, baseiam-se no Antigo Testamento e em objetos que não possuem relevância para a prática cristã, servem somente como adornos e simbologias para os locais e eventos.



Fontes das imagens e informações:


https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-critica-adocao-costumes-judaicos-igrejas-evangelicas-65004.html. Acesso em 22 de maio de 2017 às 15h36.

http://www.eismeaqui.com.br/estudos-biblicos/as-heresias-do-cristianismo-judaizante/. Acesso em 22 de maio de 2017 às 16h47.

http://noticias.r7.com/brasil/com-a-presenca-de-dilma-templo-de-salomao-e-inaugurado-em-sao-paulo-13102016. Acesso em 14 de junho de 2017 às 10h50.
http://www.mir12.com.br/br/2014/noticias/779-rene-terra-nova-13-anos-de-apostolado-autoridade-com-maturidade

https://noticias.gospelmais.com.br/apostolo-rene-terra-nova-mir-13195.html. Acesso em 21 de junho de 2017, às 18h08.

O que é o Talit - http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/602882/jewish/Talit-e-Tsitsit.htm
XAVIER, SÓSTENES M. As Festas do Senhor. Minas Gerais: Betânia, 2003. 127 p.  
ALMEIDA, JOÃO FERREIRA DE. Bíblia Sagrada. Vida, 1996.