quarta-feira, 2 de março de 2016

A Palavra na memória e no coração



A memória é uma das coisas mais interessantes no ser humano. É algo quase infinito e intangível. Nosso cérebro é capaz de guardar e processar informações durante muitos anos e nos surpreender com lembranças que nem imaginávamos existir. Outras tantas são guardadas e relembradas de tempos em tempos e nem sabemos o motivo.

Uma dessas lembranças pra mim é de uma tarde no Guarujá, em São Paulo. Eu tinha uns 14 anos e estávamos visitando algumas casas (enormes e lindas!) em um condomínio por lá. Em uma delas, percebi que nos umbrais tinham sido pregados vidrinhos retangulares, pequenos e com um papelzinho dentro. Aquilo me deixou bastante curiosa. Perguntei para alguém e me disseram que aquela era uma casa de judeus e aquilo fazia parte da cultura deles.


Tempos mais tarde, entendi o que aquilo significava ao passar pela seguinte passagem de Deuteronômio 6:4-9: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão como frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”. 

O final dessa passagem de Deuteronômio refere-se ao objeto que despertou minha curiosidade. Ele se chama “Mezuzá” e é um objeto sagrado para os judeus. Existe a forma certa de ser produzido e, de acordo com a tradição judaica, traz proteção para os moradores da casa. << Imagem do Google. >> Fonte (informações): www.chabad.org.br 



























Mas, se temos a memória, porque Deus mandou que os mandamentos Dele fossem transmitidos de pai para filho e em todo o tempo? Simples, a nossa memória é falha. Podemos lembrar inconscientemente de alguns momentos, no entanto, a certeza de que iremos lembrar daquilo que realmente é importante só acontece se tal assunto for constantemente mencionado.

Uma das primeiras dicas que as pessoas que possuem falhas na memória recebem é anotar o que elas precisam lembrar. Ter uma agenda para os compromissos diários ou colocar recadinhos na geladeira e espelho são algumas das soluções encontradas para quem costuma esquecer. Entendendo que nos tempos em que essa passagem foi escrita a maioria das pessoas não sabia ler ou escrever, a tradição oral é que era mais forte. Sendo assim, o mais comum era que os pais contassem as histórias e ensinassem seus filhos sobre os mandamentos do Senhor. A escrita acabava sendo restrita a uma parcela menor da população.

Vemos, em muitos momentos, o povo de Israel pecando contra o Senhor, pois se esqueceram das leis Dele. Isso acontecia, provavelmente, porque já não obedeciam ao mandamento de transmitir as histórias para seus filhos. E a memória ia sendo perdida, geração após geração. Até que Deus levantava profetas para alertar sobre os pecados do povo e ensiná-los, novamente, o caminho que deveriam trilhar.

O maior dos Salmos, o 119, é uma poesia de amor à Palavra de Deus. O salmista repete diversas vezes sobre a importância e a necessidade de guardar na memória e no coração a Lei do Senhor. Essa atitude o manteria puro, firme, sábio e traria tantos outros benefícios que ele provava diariamente ao meditar nas ordenanças do Senhor.

Se você já assistiu o filme “O Livro de Eli”, com Denzel Washington (alerta Spoiler!), sabe que o personagem principal, em um mundo devastado pela guerra, enfrenta desafios para proteger um objeto valioso e importante, que seria a esperança da humanidade (termos utilizados na sinopse do filme no site Adoro Cinema). Esse objeto era uma Bíblia. Mas, porque uma Bíblia seria a esperança do mundo?

Nesse livro (ou conjunto de livros) contém as palavras que o próprio Deus deixou para o homem. São as leis, revelações, histórias e lições que podem reger nossa vida e fazer com que sejamos diferentes em um mundo repleto de egoísmo e falta de amor. Essa Palavra é vida no meio da morte.

Hoje, temos versões em vários idiomas e formatos que vão desde o papel e áudio, até aplicativos que cabem na palma das nossas mãos. No entanto, apesar de tão próxima e palpável, ela parece estar cada vez mais distante dos nossos corações. Não temos o amor e a reverência que a ela são devidos.

Os judeus tem essa Palavra como objeto de proteção, o filme, como uma mensagem de esperança e nós, cristãos, que deveríamos tê-la como padrão de vida e levá-la na memória e no coração, só a temos como um livro que carregamos debaixo do braço uma vez por semana ou como um ícone na tela do celular, onde clicamos de vez em quando. Não ensinamos nossos filhos sobre a importância dessa Palavra, até porque, nós mesmos, tantas vezes, não nos importamos com ela. E assim, a memória vai se perdendo. Mesmo que escrita, está esquecida e empoeirada nos cantos dos armários.

O próprio Jesus, que é o Verbo, a Palavra de Deus, se comparou ao Pão da Vida. Isso quer dizer que a Palavra é alimento que traz vida. Vamos alimentar nossa memória com essa mensagem. Vamos alimentar nosso coração com essa mensagem. Vamos alimentar as próximas gerações com essa mensagem. Só assim teremos um povo forte! Não forte fisicamente, mas forte da Vida de Deus! E, só assim, poderemos transformar o mundo em que vivemos como Cristo transformou.