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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Vamos falar sobre o Arrebatamento da novela da Record?

Todas as crianças sumiram durante o Arrebatamento.
Imagem da novela retirada do site Veja.com.br

"Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, 
assim será também a vinda do Filho do homem." Mt 24:27

Ontem, 6 de fevereiro de 2018, foi ao ar uma das cenas mais esperadas da novela "Apocalipse", da Record TV: o Arrebatamento. A ficção busca retratar os últimos dias em uma visão "pré-tribulacionista" (vertente que acredita que Jesus busca a Igreja secretamente primeiro, em seguida, acontece a Grande Tribulação e Ele volta novamente em grande glória, visível a todos). Eu, particularmente, creio nessa visão mas, de jeito nenhum, vou ousar a pensar como sendo a única proposta correta. Também não estou aqui para discutir se esta, ou aquela, que está certa. O que eu acredito, efetivamente, é que Jesus vai voltar (Ele prometeu e suas promessas nunca falham) e eu vivo a minha vida aguardando e vivendo para Ele. 

Voltando ao assunto da novela... A cena do Arrebatamento foi arrebatadora! Uma sequência enorme de cenas (cerca de 14 min), muito bem editadas e dirigidas e com efeitos especiais fantásticos! O que foram aqueles acidentes de helicóptero e de avião???!!
Mais uma vez, em uma cena esperada, a Record se superou. E o fato deles sempre nos prepararem para os grandes momentos, não perde o sabor... Podemos nos preparar para estar na frente da tela, esperando. Como foi com as pragas no Egito, a abertura do Mar Vermelho, as muralhas de Jericó e os homens da fornalha, mais uma vez, tinha data e hora para o público estar na frente na televisão. E a produção da novela cuidou de cada detalhe.

O Arrebatamento

Como alguém que passou a vida inteira ouvindo sobre o Arrebatamento e a a volta de Jesus, seja em palestras, pregações, músicas ou lendo a própria Bíblia, cada detalhe aconteceu ontem. Teve helicóptero, avião e carros desgovernados, porque os pilotos foram arrebatados. Teve gente aceitando Jesus de verdade, segundos antes do Arrebatamento. Teve gente "aceitando Jesus" e não sendo arrebatado. Tiveram aqueles que todo mundo já sabia que seriam arrebatados e teve sala de aula, berçário e parquinho vazios após o Arrebatamento, pois Jesus levou todas as crianças. E, claro, tiveram aqueles que foram "deixados pra trás", seja porque nem sabiam o que estava acontecendo, seja porque não criam que aquilo iria acontecer um dia. 

Depois da sequência de tirar o fôlego, surge na tela um Sérgio Marone imponente (diga-se de passagem, ele está perfeito nesse papel). Alto, bonito, com presença marcante, vaidade extrema, muita maldade e boa oratória, Ricardo Montana é um Anticristo perfeito. Lembrando que a novela é uma ficção baseada em vertentes teológicas que não são a verdade absoluta, não vamos discutir as origens do personagem também. Vamos nos ater à cena final do capítulo de ontem. O Anticristo olha diretamente para a câmera (achei ousado!) e diz: "Let´s begin! Agora sim, chegou a minha hora!" Li resenha de site que disse que podia ter passado sem essa cena. Gente!! Achei maravilhosa. Achei ousada! Achei tãããão "season finale, partiu pra outra temporada!" Até mesmo, porque a ideia é essa. Agora começa uma nova temporada. 

Ricardo Montana - o Anticristo - finalizou o capítulo do Arrebatamento
preparando o público para os próximos acontecimentos.

Imagem: notíciasdatv.uol.com.br

O que será de quem ficou? Será que vão entender que foi o Arrebatamento? Como irão reagir? E, principalmente, como será o governo do Anticristo na Terra? São as cenas dos próximos capítulos que vão dar um novo ritmo à novela. Agora começam mais cenas de ação, de violência, de suspense... efeitos especiais! Os cavaleiros do Apocalipse entram em ação e, com eles, todos os desastres. E aguardamos que a Record nos surpreenda novamente. 

Momentos, cenas, personagens marcantes

Alguns detalhes me marcaram nesse capítulo. Em primeiro lugar, o caso do Bruno, irmão da Talita... (acho que era esse o nome dele hahah). Ele já estava com coração quebrantado, pois passando perto da pregação, foi atraído e recebeu a salvação naquele momento. Não sabia nada sobre doutrinas e teologia. Ele simplesmente recebeu o Senhor Jesus de verdade e foi arrebatado naquele momento. Isso nos mostra que sempre é tempo. Oportunidades não nos faltam. É preciso correr para o Pai enquanto há tempo.

Zoey, a jornalista famosinha, é a outra personagem que me marcou nesse Arrebatamento. Algum tempo antes, em conversa com os pais, ela havia declarado que sentia saudades da igreja e sabia que estava em débito com o Senhor. Ela foi criada na igreja e era uma moça de fé e princípios. No entanto, a vida profissional e sentimental "engoliram" o tempo com Deus. Jesus já não fazia tanta diferença assim na vida dela. Consequentemente, enquanto o pai e a mãe subiram, ela permaneceu. Quem cresceu na igreja deve conhecer a frase: "Não vai subir pro céu na barra da saia da mãe".

Sobre a novela

Não acompanho "Apocalipse" como acompanhava "Os Dez Mandamentos I e II" e "Terra Prometida". Acho que até "O Rico e o Lázaro" eu vi mais do que a novela atual. No entanto, apesar dos problemas de bastidores (a autora - a sensacional Vivian de Oliveira - não tem muita liberdade de criar, pois os líderes da Igreja Universal interferem no trabalho), a construção dos personagens, como sempre nas obras de Vivian, foram muito bem feitas e culminaram no resultado do Arrebatamento. Contudo, os vários ambientes nos deixam um pouco confusos, assim como a história do serial-killer, especialmente para mim, que não acompanho diariamente a novela. Na minha opinião, a quantidade excessiva de personagens é um problema que às vezes, tende a atrapalhar as obras da autora. 

No entanto, a forma como Vivian de Oliveira consegue relacionar a Bíblia com a ficção, "explicando" para o telespectador como poderia acontecer determinada coisa, é muito interessante. Desde os "Os Dez Mandamentos" percebo essa sensibilidade em relacionar o texto bíblico ao texto da novela. Na minha opinião, nem os acréscimos atrapalham o contexto da Palavra de Deus. É só assistirmos a novela entendendo que aquilo é uma ficção BASEADA em texto bíblico. E "Apocalipse" é um enorme desafio. Cada um pensa de um jeito e ela teve que escolher um lado pra acreditar e investir nele. 


Enfim...

Como disse anteriormente, se vai acontecer ou não dessa forma, nós não sabemos. Só Deus sabe como serão os momentos finais. Mas de uma coisa sabemos: a Palavra de Deus está se cumprindo. O amor está esfriando. A violência está aumentando. Guerras e rumores de guerras estão aí... nação contra nação, filhos contra pais e pais contra filhos. Dói o coração ouvir as notícias.

Eu estou me preparando para a volta do Cordeiro, do meu amado Noivo, que irá me buscar para as Bodas Dele. E você? Está preparado(a)? A novela só deu um gostinho do que irá acontecer. Foi um alerta!






terça-feira, 15 de agosto de 2017

Atypical: sensibilidade na nova série da Netflix

Fonte da imagem: Google
A Netflix lançou mais uma série original. O serviço de streaming anda lançando tantas que não dá nem tempo de ver todas, não é? Mas essa eu indico demais. É bem rapidinha. Como estou de férias, terminei em dois dias. Está na primeira temporada e espero que seja renovada, apesar da Netflix nos matar de tanto esperar... Possui apenas oito episódios de meia hora. Não falei que é rapidinho? Você nem vai sentir o tempo passar. 

A temática

Apesar do tema denso, a série mescla tons de drama e comédia na medida certa. Atypical” trata da vida do adolescente, quase adulto, Sam Gardner (Keir Gilchrist), dignosticado com Síndrome de Asperger, que está entre os Transtornos do Espectro do Autismo. Com 18 anos, chega na fase em que deseja namorar. O problema é que, para ele, se relacionar é bem mais complicado do que para outras pessoas.

A série aborda a temática de forma ampla e sensível: não focando somente na pessoa de Sam, mas levando o público a conhecer os membros da família, seus próprios sentimentos e como o diagnóstico do garoto afetou e continua afetando a relação entre eles. Não sei se seria um spoiler o que vou dizer a seguir (se não quiser arriscar, pare de ler por aqui...), mas não vi outras resenhas falando muito sobre a família de Sam. É claro que o diferencial desse seriado é a forma sensível como o autismo é tratado. No entanto, o que mais me marcou foi o modo como a autora Robia Rashid retratou o aspecto familiar em torno da doença. 

A família

Sam possui pai, mãe e irmã. Uma família tecnicamente normal e unida, mas, durante a série, são descortinados diversos fatores que revelam a dificuldade de cada um em lidar com o autismo dentro de casa. A mãe, Elsa, é a leoa. Que sempre fez tudo pelo filho e, como abriu mão de várias coisas para cuidar dele, diante da possível “independência” de Sam, agora vive um momento de conflitos internos. O pai, Doug, ama o menino, mas teve dificuldades em lidar com a doença do filho diante da sociedade. 

Da família, a personagem mais interessante na minha opinião é a irmã, Casey. A caçula passou a vida como coadjuvante, já que Sam é o centro das atenções. Inteligente e super atleta, nem suas conquistas pessoais a fazem ganhar um pouco da atenção dos pais. No entanto, ama demais o irmão e o protege em ambientes hostis, como no colégio, por exemplo.

Existem outros personagens ainda, que interagem de forma importante na série. Mas se eu contar sobre eles, aí sim seria spoiler. Você vai precisar assistir pra conhecer.

Atypical” aborda os temas adolescentes e os desafios diante de uma doença que sempre foi estigmatizada e pouco conhecida pela sociedade. Mostra sensibilidade ao tratar do assunto na visão do próprio portador de autismo e de sua família. 

Você verá o autismo por outra ótica após assistir essa série. Realmente, vale a pena. Assiste aí e depois me conte o que achou. 


sábado, 29 de julho de 2017

Eu preciso falar sobre "Mr Selfridge"

Jeremy Piven é Harry Gordon Selfridge no seriado que estreou em 2013.
As quatro temporadas da série da ITV estão disponíveis na Netflix.

Para aqueles que curtem o combo "seriado + de época + biografia" vão curtir "Mr. Selfridge". A Netflix e suas infinitas indicações de acordo com as nossas preferências, já me apontava esta série. No entanto, fiquei reticente. Achei que podia ser monótona e muito pesada para minha atual "preguiça mental" para seriados difíceis. 

Depois de uma longa caminhada por seriados de época e que possuíam mulheres como protagonistas (The Crown, Call the midwife, Land Girls, Outlander, The Paradise), finalmente me rendi àquela imagem de um homem poderoso em sua mesa de madeira maciça. E fui positivamente surpreendida. (Adoro quando isso acontece!) E eu "engoli" a série. Assisti um episódio após o outro das quatro temporadas e terminei rapidinho (infelizmente).

Curiosa que sou, entre um episódio e outro, acabei pesquisando sobre o magnata no Google e, é claro, como seria normal de uma biografia, recebi aqueles spoilers direto na face! Mas isso não me atrapalhou em nada. Mr Selfridge já tinha me conquistado.  Figurino, fotografia, cenografia. Tudo impecável! Os atores podem causar certa estranheza a princípio, mas vão se tornando naturalmente parte da nossa família. 


O seriado



Cada personagem traz lições únicas e importantes. Eles se formam e crescem a cada temporada.

Início do século XX, período de grandes mudanças: sociais, tecnológicas ou comportamentais, "Mr. Selfridge" consegue abarcar diversas vertentes. Harry Gordon Selfridge é um estadunidense, visionário. Em viagem à Londres, percebe que aquela cidade, com todo seu potencial, ainda não possuía uma loja de departamentos como a "Marshall Field", onde ele havia sido "formado" profissionalmente. Para você ver que Selfridge está presente hoje ainda, a frase emblemática "O cliente tem sempre razão" é atribuída a Selfridge ou ao seu patrão na Field. No entanto, seu instinto empreendedor, trouxe para a Inglaterra uma nova visão de negócios. Mega promoções e atividades artísticas e culturais eram realizadas na loja e faziam parte das estratégias para atraírem clientes. E publicidade. Ahhh! A publicidade era uma grande paixão de Selfridge, que gastava rios de dinheiro com publicidade em jornais de grande circulação.

A série aborda a vida profissional e pessoal de Selfridge, da ascensão à queda. Caso você pesquise no Google e assista a série, verá que existem algumas diferenças da história real. Porém, isso não abala em nada a qualidade do seriado. Portanto, não vou me ater a repetir o que você pode achar em outros sites. 

Além disso, em uma época em que as roupas eram produzidas artesanalmente e os produtos eram mantidos longe das vistas dos clientes, Selfridge lotava os estoques e deixava à mostra para que todos pudessem ver, tocar e, assim, escolher. A Selfridge´s era uma loja voltada para a classe abastada e, como estratégia, colocou departamentos femininos em evidência, assim como perfumaria e cuidados com a pele. Vitrines eram tão valorizadas por Selfridge, que existiam funcionários com dons artísticos especialmente contratados para pensarem na decoração de acordo com cada campanha ou promoção nova na loja.

O primeiro episódio mostra a inauguração da Selfridge´s e já surgem vários personagens que nos acompanham durante todas as temporadas. As histórias de cada um se misturam com a do próprio Selfridge ou de sua loja. Desde a questão familiar, as aventuras amorosas (que, até mesmo, interferiram nos negócios), a irresponsabilidade com jogatinas, até a forma inovadora de gerenciar a empresa e os funcionários. Os sentimentos são evidenciados e a história de cada um, de Selfridge, seus filhos, gerentes e vendedores, passa a ser envolvente e nos dá a deliciosa sensação de serem parte de nossas próprias vidas. Com sinceridade, quando terminei o seriado, senti muita saudade. 


Por que indico?

Jeremy Piven deixou sua marca e fez um maravilhoso Harry Gordon Selfridge.

Para as quatro temporadas, a passagem de tempo é de cerca de 20 anos, que perpassa diversos acontecimentos da História mundial, como a Primeira Grande Guerra e suas consequências sociais. A passagem de tempo também possibilita vermos as diferenças nos vestuários, maquiagem e no pensamento cultural da época.

Indico, primeiramente, porque sou uma apaixonada por História e esse seriado passa por vários temas interessantes, tais como: a questão da mulher na sociedade, a mudança nos pensamentos culturais com relação ao vestuário, à maquiagem, as consequências sociais de uma guerra, entre outros. Além disso, "Mr Selfridge" é muito bem produzido, com atores ótimos e um figurino impecável. 

A figura feminina também é colocada em evidência. Desde sua mãe, sua esposa, suas filhas, suas amantes, suas funcionárias e suas amigas, diversas personagens fortes e importantes passam pela vida de Selfridge. Apesar dos momentos que revelam a fraqueza de Selfridge diante de um "rabo de saia", também existem os conselhos das mulheres, que ajudam o empresário em vários dilemas. No entanto, ele também faz a diferença na vida de algumas personagens, como suas funcionárias, quando lhes oferece e possibilita oportunidades de crescimento profissional, em um momento em que a mulher era desvalorizada e só servia para ser dona de casa e mãe, ele valoriza a mulher como profissional. E isso é bem pontuado na série. 

Na série existe uma clara demarcação entre as mulheres que são "diversão" e as que "são levadas a sério" na vida de Selfridge. Personagens como a esposa Rosie, a mãe Lois, a amiga Lady Mae e as a funcionárias Agnes Towler, Miss Mardle e Kitty fazem parte do mundo "sério" feminino da vida de Selfridge no seriado. Cada uma com sua parcela de importância, seja na vida pessoal do magnata ou na rotina da loja. No caso das funcionárias, é interessante vermos a visão diferenciada que Selfridge possui diante de um período ainda machista da história. 

"Mr. Selfridge" me marcou em tantos níveis que é difícil descrever. Para mim, foi mais que um entretenimento qualquer. É entretenimento com aprendizado e reflexão. Assista "Mr. Selfridge" com olhar crítico. Mesmo sabendo que não é fiel à verdadeira história de Selfridge, as partes importantes, que revelam os erros e acertos desse homem visionário, estão ali para assistirmos. 


Alguns links interessantes, caso você deseje conhecer mais sobre o empresário que mudou a visão do comércio:

Vídeo produzido pela Selfridge´s com os atores de "Mr. Selfridge"

Texto interessante sobre a vida de Harry Gordon Selfridge

Texto sobre as diferenças entre a história real e a ficção (em inglês)


Assista e me conte suas impressões sobre "Mr. Selfridge".

E agora? Qual seriado você me indica??

terça-feira, 4 de abril de 2017

"13 reasons why": um recado para os pais de adolescentes



Preste atenção ao que seu filho está assistindo. Tem um seriado novo da Netflix, que se chama "13 reasons why".
A princípio, ela parece mais uma série de adolescentes no Ensino Médio, tempo em que os colegas são maus e o bullying é algo bem constante. 
O seriado é sobre uma menina que comete suicídio e deixa várias fitas cassete que explicam as razões pelas quais ela decidiu se matar. As razões são vários colegas da escola, que praticam assédio e cometem bullying contra ela, consciente ou inconscientemente (apesar de que ninguém é cruel com outro alguém de forma inconsciente). Na série, os pais estão processando o colégio por ter sido negligente com a filha.
O assunto bullying está em voga nos últimos anos e deve sim, ser discutido. Mas, nesse caso, o assunto central é o suicídio da menina.
A série retrata temas importantes e isso é inegável, mas será que os adolescentes estão com a mente preparada para a forma como a série retrata o assunto? Talvez sirva de gatilho para as emoções em ebulição da adolescência.
Grande parte dos adolescentes é dramático por natureza e muito focado no "agora". 
Não digo para não os deixarem assistir, mas para ficarem atentos, tanto à série e o que ela aborda, quanto ao comportamento do seu próprio filho.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

África por um africano - resenha do livro "O Mundo se despedaça"

(Resenha elaborada como trabalho para a disciplina de História da África - UFJF - Instituto de Ciências Humanas - Curso de História)

No livro “O mundo se despedaça”, o nigeriano Chinua Achebe traz ao leitor a realidade dos habitantes das nove aldeias da região de Umuófia, na Nigéria, até a chegada dos homens brancos, no final do século 19. O povo ibo, localizado ao norte do delta do rio Níger, vivia mergulhado em suas tradições milenares até o contato impactante com os europeus.

Para retratar todos os aspectos culturais e religiosos daquela nação, o autor nos apresenta Okonkwo, um bravo guerreiro, filho do flautista Unoka, desprezado pela tribo e pelo próprio filho por ser considerado fraco e preguiçoso. Através da vida desse personagem, conhecemos a forma como pensavam os homens mais tradicionais daquela sociedade e o que faziam para crescerem de status e preservarem a cultura local.

Okonkwo é um homem forte, forjado na vida pela humilhação de ter um pai que não conseguira ascender socialmente e não lhe forneceu o aparato necessário para iniciar seu caminho. Por isso, e por causa de sua ambição, é esforçado e busca conquistar tudo o que lhe for possível.

Ao passearmos pelas fases do ano e da vida desse habitante, conhecemos a cultura e religião desse povo, seus costumes familiares, de vestuário e celebrações, como se relacionavam em sociedade, seu senso de justiça, o respeito aos deuses e como era a alimentação do povo ibo.

O protagonista dessa história é o fator central para conhecermos diversas vertentes daquela comunidade. Por ser ambicioso em sua busca pela ascensão social e por seu tradicionalismo religioso e cultural, é responsável, até mesmo, pela morte de um jovem que o chamava de pai.

Essa situação é originada devido a um assassinato de uma mulher da aldeia, a esposa de Ogbuefi Udo. O diferencial desse acontecimento era porque o crime tinha sido executado por alguém de um clã vizinho, o que despertou a ira dos homens da aldeia. Foi decidido que Okonkwo seria o emissário de guerra. Voltou à sua aldeia com uma virgem, que substituiria a cônjuge assassinada, e um adolescente de 15 anos, que pertencia a toda aldeia e, enquanto não era decidido seu destino, ficou debaixo da responsabilidade de Okonkwo.

O jovem Ikemefuna conviveu com a família durante três anos e era considerado um membro. Acompanhava Okonkwo em reuniões da cidade e passou a chamá-lo de pai. Tornou-se um grande companheiro do primogênito de Okonkwo, Nwoye, apenas dois anos mais novo e lhe ensinou muitas coisas, como se fosse seu irmão mais velho.

Foram três anos de convivência familiar, até que chegou o dia em que o destino do menino foi decidido. Ele teria que morrer. Okonkwo foi alertado para não ir junto com os homens cumprir essa tarefa, mas sua honra falou mais alto e, além de acompanhá-los, acabou sendo aquele que pôs fim à vida do menino. Tal fato marcou o personagem diante da sociedade e gerou certo remorso.

O inhame é muito importantes nessa sociedade. Além de ser o principal alimento, o tamanho das plantações tem relação com a riqueza daquele indivíduo.

Quanto maior a plantação, mais rico aquele homem é. Assim como o número de esposas também determina status, pois é preciso ter sucesso financeiro para o dote e para sustentar as mulheres e filhos. A noz de cola é oferecida como símbolo de hospitalidade e o vinho de palma é a bebida mais consumida nessa sociedade.

Os deuses da terra e ancestrais ditam a grande maioria das regras da aldeia. São tradições diferentes das ocidentais e muitas, até cruéis, como abandonar os bebês que fossem gêmeos ou esquartejar as crianças que morrem e são geradas por mães que perdem muitos bebês. A explicação para esta tradição é que quando a mesma mulher gera crianças que não sobrevivem por muito tempo, são espíritos que retornam nos
bebês e, para que isso não aconteça novamente é preciso esquartejar o cadáver do bebê.

Poligamia, dote, casamento arranjado, violência doméstica, ascensão social, comércio, agricultura, justiça proclamada por deuses e espíritos ancestrais. Cada capítulo do livro retrata um aspecto daquela sociedade e nos faz mergulhar naquela realidade e nos sentirmos parte daquele povo.

O livro é dividido em três partes. A primeira conta a vida de Okonkwo na aldeia em que nasceu. A segunda parte acontece na aldeia em que nasceu a mãe do protagonista, para onde ele foi exilado com sua família, após um acidente em que foi responsável pela morte de um jovem de sua própria aldeia.

Esses dois terços do livro relatam o dia a dia desses africanos antes da chegada do homem branco. Na terceira parte, quando Okonkwo já está no fim do tempo do seu exílio, os ingleses começam a implantar o cristianismo naquela sociedade. E é aí que o mundo ibo e o do próprio Okonkwo começam a se despedaçar. Na aldeia em que estava exilado, as mudanças começavam a acontecer e o povo cedia às novas ideias. Okonkwo pensava que em seu lugar de origem os homens seriam mais firmes e não seriam
dominados tão facilmente, mas estava errado.

Os europeus chegaram de forma pacífica na comunidade através do cristianismo e, aos poucos, começaram a propagar suas ideias. Conversavam com os líderes e debatiam as divergências religiosas e culturais. Com o tempo, mães que não queriam que seus filhos gêmeos morressem, pessoas que eram desprezadas pela comunidade e curiosos começaram a interessar por aquela nova religião que lhes estava sendo apresentada e os recebia de braços abertos.

Certo dia, os missionários solicitaram um pedaço da terra para que pudessem construir o templo. A fim de prejudicar a estadia desses homens, foi-lhes entregue um local considerado amaldiçoado pela crença local. Depois de um período, nada do que as supertições indicavam que aconteceria, ocorreram. Situações como essa impressionaram os aldeões e fortaleceram os brancos.

Após um tempo em que o cristianismo já estava tendo êxito na região, iniciou o processo de implantação de governo baseado no modelo europeu. Já não eram mais os deuses e espíritos ancestrais que tomavam as decisões, mas as leis dos homens brancos.

E os colonizadores prendiam aqueles que fossem contra a nova proposta implantada. O livro termina durante esse processo, que perdurou até o século XX no continente africano. Apesar de relatar a história de um determinado povo, podemos entender as diferenças de cosmovisão entre europeus e africanos e como o embate entre elas pode ser cruel.
O autor Chinua Achebe
Imagem retirada do Google

A forma como o autor divide os acontecimentos e como relata a história, nos permite vivenciar as diferentes fases da vida de um integrante do povo ibo. Achebe retrata os sentimentos e pensamentos e monta com o perfil psicológico dos principais personagens, nos fazendo compreender o real motivo dos seus comportamentos.

A cada capítulo, a história se desenrola e nos envolve. Alguns momentos nos prendem a atenção e desejamos continuar a leitura para saber o que acontecerá. O mesmo pode-se dizer acerca do desfecho da obra, que termina de forma surpreendente.

É uma leitura bem diferente, pois é a visão de um africano acerca de seu próprio povo e escrita com base na tradição oral. Intrigante e envolvente, “O mundo se despedaça” nos traz um rico conhecimento histórico-cultural através de um enredo fascinante pelo interior do continente africano.


Referência Bibliográfica: ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo: Companhia das Letras,

2009.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

"Crônicas de Nárnia" - Um convite para sonhar

O leão Aslam e a pequena Lúcia
#Essa é a primeira das resenhas que pretendo escrever relacionadas às Crônicas de Nárnia. Depois da Bíblia, sem dúvida, meu livro preferido. Recomendadíssimo!


Após o sucesso dos filmes “Crônicas de Nárnia – O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, “Crônicas de Nárnia 2 – O Príncipe Caspian” e "Crônicas de Nárnia - A viagem do Peregrino da Alvorada" a série, antes desconhecida, de livros do autor C.S Lewis passou a ser conhecida e procurada no Brasil.



O volume completo de “Crônicas de Nárnia” é composto por sete crônicas, sendo que as filmadas são relativas a segunda, quarta e quinta fábulas da série.


O autor

C.S Lewis era um irlandês cristão, intelectual e estudioso, contemporâneo de J.R.R Tolkien, autor da série “O Senhor dos Anéis”. Lewis teve como intenção inicial nesse livro, escrever histórias infantis, mas elas, até hoje, atraem jovens e adultos. Com uma temática fantástica e um enredo cristão, o autor consegue abranger toda a história bíblica através dos personagens.


Analogia bíblica

“O Sobrinho do Mago” é a primeira crônica e faz uma alusão ao livro de Gênesis, onde ocorre a criação do mundo através da palavra de Deus. O leão Aslam, personagem central das “Crônicas” e uma figura do próprio Jesus, traz Nárnia à vida através de palavras e do seu sopro (João 1:1-5). Em meio às viagens entre o mundo real e a terra de Nárnia, as primeiras crianças conhecem essa nova realidade, que pode ser comparada ao Jardim do Éden.

Nárnia é um país perfeito, onde tudo está em sintonia e as criaturas são animais falantes, anões, gigantes entre outras criadas pela imaginação do autor e/ou comuns em contos de fadas. Os homens e mulheres, aqui chamadas de “Filhos de Adão” e “Filhas de Eva”, sempre aparecem para retomar a paz e liberdade a Nárnia, já que são eles que sempre reinam sobre o país.

A primeira vez que o equilíbrio em Nárnia é quebrado foi através da entrada e reinado da Feiticeira Branca, que traz um inverno de 100 anos ao lugar. Essa é a temática da segunda crônica: “A leão, a feiticeira e o guarda-roupa”. É nessa história que os irmãos Pedro, Susana, Lúcia e Edmundo aparecem pela primeira vez, após chegarem a Nárnia através de um velho guarda-roupa.

Para entender a ligação entre o guarda-roupa e Nárnia é preciso ler a primeira crônica, assim como ler, sequencialmente, cada uma delas para que se entenda toda a história de Nárnia, relatada pelo autor do princípio ao fim (de Gênesis a Apocalipse). Para quem conhece as histórias bíblicas, irá se divertir tentando entender o que se passava na mente do autor quando criou cada personagem. Cada detalhe da história pode ser considerado uma alusão aos acontecimentos bíblicos.

Mais detalhes sobre as Crônicas e o volume único

As sete crônicas não foram escritas na ordem que foram colocadas no Volume Único, no entanto, ao ler, percebemos que, assim, a cronologia faz algum sentido e fica bem mais fácil entender sobre certos acontecimentos.

Entre as histórias, a única que não contém nenhuma viagem entre o “mundo real” e Nárnia é “O Cavalo e seu menino”. Nessa, todos os personagens estão em Nárnia e, apesar de parecer meio perdida dentro das outras, é linda e possui lições de vida maravilhosas.

O volume único, que abarca todas as sete crônicas ainda traz um presente no final: um texto do autor sobre “Três maneiras de se escrever para crianças”, que relata a opinião de Lewis sobre o processo de criação de um livro infantil.

“Crônicas de Nárnia” não é somente mais um livro de ficção. São mais de 700 páginas de aprendizado, educação e diversão. É um convite ao retorno para o mundo infantil da imaginação, porém, sem futilidades. Crianças podem sonhar e “Crônicas de Nárnia” prova que adultos também.