domingo, 28 de agosto de 2016

Antes dos 30 anos e já vi meu país afastar dois presidentes do poder.


(Texto escrito em 12 de maio, quando a presidente foi afastada por 180 dias do poder)

Parece que os anos de "sossego" em nosso país são poucos.
Nasci em 1986, ano entre o grito pelas Diretas Já (83/84), a volta do governo civil (85) e a nova Constituição (88), que estabeleceu o Brasil como um estado democrático de direito.
Em 1992, eu tinha seis anos e lembro que a boneca do armarinho próximo à minha casa tinha um preço de manhã e outro à tarde.
E foi nesse ano que Collor foi destituído.
Collor que, atualmente é Senador (eleito pela população), e votou a favor do impeachment da Dilma.
Lembro da chegada do Plano Real em 1994 e que CR$ 2.750,00 (Cruzeiros reais) agora equivalia a R$1,00.
E R$1,00 equivalia a US$1,00. (A cotação hoje está em R$3,49).
E do ano que nasci até quando o Real foi instituído, o Brasil já tinha passado por outras quatro moedas.
E, a partir daí, as mudanças foram muitas.
Com o tempo paramos de ouvir sobre a dívida externa, que assombrava o país.
A economia começou a entrar em ascensão e o Brasil começou a voltar ao eixo.
Foram oito anos de um governo de direita e, até agora, já havíamos ultrapassado 12 anos de outro governo, que era pra ser de esquerda.
A corrupção, que já existia, (sim, ela existe desde que o mundo é mundo, desde a chegada da Côrte Portuguesa ao Brasil, desde sempre! Não é invenção do PT), parece que tomou uma proporção catastrófica e entrou em evidência. O tapete foi levantado e a sujeira apareceu.
Como uma montanha-russa, depois de uma grande subida, cheia de tensão e ansiedade, a descida foi de dar frio na barriga.
Parece que a queda foi brusca.
Foram muitas as conquistas sociais, não tenho como discordar.
Porém, algumas de maneira irresponsável. E foi aí que começou a queda.
E provérbios 16:18 já alerta, "a soberba precede à ruína..."
Nada fizeram para mudar a situação, foram destituídos do poder.
O problema é que as substituições não são nada favoráveis.
Saiu o 6 e entrou o meia dúzia.
Mas, talvez se o 6 não tivesse caído, o orgulho tivesse vencido.
A esperança é buscar ver o futuro com olhos positivos.
Da primeira vez, a mudança foi positiva. Veremos agora.
E se esse tiver que sair para que possamos escolher outro, que saia também.
Nossa fé não está em homens, mas em um Deus que governa e conhece todas as coisas.
Que o povo brasileiro pense bem antes de votar. (É uma paixão minha desde pequena, quando fazia questão de acompanhar meus pais às urnas e ia marcar o X na cédula).
Que o povo não brinque, votando em palhaços (que tem se saído mais sério do que os homens dito "sérios").
Que o povo não vote com sentimento de ódio nos corações.
Que o voto seja pensando no país e não em uma bandeira ou partido.
Li um tweet de alguém que perguntava: Como vou explicar ao meu filho que temos um novo presidente se não aconteceram novas eleições?
Respondo aqui: Explicando pra ele que ninguém é insubstituível, e que se não fez o trabalho direito, sairá do posto.
Que o povo analise quem são os vices, pois, em alguns momentos, eles não estarão mais nos bastidores. E o que acontecerá quando forem protagonistas?
Que a graça e a misericórdia do Senhor esteja sobre o nosso país! Oro dessa forma, mesmo sabendo que a vinda de Cristo está próxima e, por isso, a tendência não é melhorar.
Mas, que Ele possa nos guardar, como pessoas, como família, como país.
PAZ, BRASIL!
#PolíticaBrasileira

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

África por um africano - resenha do livro "O Mundo se despedaça"

(Resenha elaborada como trabalho para a disciplina de História da África - UFJF - Instituto de Ciências Humanas - Curso de História)

No livro “O mundo se despedaça”, o nigeriano Chinua Achebe traz ao leitor a realidade dos habitantes das nove aldeias da região de Umuófia, na Nigéria, até a chegada dos homens brancos, no final do século 19. O povo ibo, localizado ao norte do delta do rio Níger, vivia mergulhado em suas tradições milenares até o contato impactante com os europeus.

Para retratar todos os aspectos culturais e religiosos daquela nação, o autor nos apresenta Okonkwo, um bravo guerreiro, filho do flautista Unoka, desprezado pela tribo e pelo próprio filho por ser considerado fraco e preguiçoso. Através da vida desse personagem, conhecemos a forma como pensavam os homens mais tradicionais daquela sociedade e o que faziam para crescerem de status e preservarem a cultura local.

Okonkwo é um homem forte, forjado na vida pela humilhação de ter um pai que não conseguira ascender socialmente e não lhe forneceu o aparato necessário para iniciar seu caminho. Por isso, e por causa de sua ambição, é esforçado e busca conquistar tudo o que lhe for possível.

Ao passearmos pelas fases do ano e da vida desse habitante, conhecemos a cultura e religião desse povo, seus costumes familiares, de vestuário e celebrações, como se relacionavam em sociedade, seu senso de justiça, o respeito aos deuses e como era a alimentação do povo ibo.

O protagonista dessa história é o fator central para conhecermos diversas vertentes daquela comunidade. Por ser ambicioso em sua busca pela ascensão social e por seu tradicionalismo religioso e cultural, é responsável, até mesmo, pela morte de um jovem que o chamava de pai.

Essa situação é originada devido a um assassinato de uma mulher da aldeia, a esposa de Ogbuefi Udo. O diferencial desse acontecimento era porque o crime tinha sido executado por alguém de um clã vizinho, o que despertou a ira dos homens da aldeia. Foi decidido que Okonkwo seria o emissário de guerra. Voltou à sua aldeia com uma virgem, que substituiria a cônjuge assassinada, e um adolescente de 15 anos, que pertencia a toda aldeia e, enquanto não era decidido seu destino, ficou debaixo da responsabilidade de Okonkwo.

O jovem Ikemefuna conviveu com a família durante três anos e era considerado um membro. Acompanhava Okonkwo em reuniões da cidade e passou a chamá-lo de pai. Tornou-se um grande companheiro do primogênito de Okonkwo, Nwoye, apenas dois anos mais novo e lhe ensinou muitas coisas, como se fosse seu irmão mais velho.

Foram três anos de convivência familiar, até que chegou o dia em que o destino do menino foi decidido. Ele teria que morrer. Okonkwo foi alertado para não ir junto com os homens cumprir essa tarefa, mas sua honra falou mais alto e, além de acompanhá-los, acabou sendo aquele que pôs fim à vida do menino. Tal fato marcou o personagem diante da sociedade e gerou certo remorso.

O inhame é muito importantes nessa sociedade. Além de ser o principal alimento, o tamanho das plantações tem relação com a riqueza daquele indivíduo.

Quanto maior a plantação, mais rico aquele homem é. Assim como o número de esposas também determina status, pois é preciso ter sucesso financeiro para o dote e para sustentar as mulheres e filhos. A noz de cola é oferecida como símbolo de hospitalidade e o vinho de palma é a bebida mais consumida nessa sociedade.

Os deuses da terra e ancestrais ditam a grande maioria das regras da aldeia. São tradições diferentes das ocidentais e muitas, até cruéis, como abandonar os bebês que fossem gêmeos ou esquartejar as crianças que morrem e são geradas por mães que perdem muitos bebês. A explicação para esta tradição é que quando a mesma mulher gera crianças que não sobrevivem por muito tempo, são espíritos que retornam nos
bebês e, para que isso não aconteça novamente é preciso esquartejar o cadáver do bebê.

Poligamia, dote, casamento arranjado, violência doméstica, ascensão social, comércio, agricultura, justiça proclamada por deuses e espíritos ancestrais. Cada capítulo do livro retrata um aspecto daquela sociedade e nos faz mergulhar naquela realidade e nos sentirmos parte daquele povo.

O livro é dividido em três partes. A primeira conta a vida de Okonkwo na aldeia em que nasceu. A segunda parte acontece na aldeia em que nasceu a mãe do protagonista, para onde ele foi exilado com sua família, após um acidente em que foi responsável pela morte de um jovem de sua própria aldeia.

Esses dois terços do livro relatam o dia a dia desses africanos antes da chegada do homem branco. Na terceira parte, quando Okonkwo já está no fim do tempo do seu exílio, os ingleses começam a implantar o cristianismo naquela sociedade. E é aí que o mundo ibo e o do próprio Okonkwo começam a se despedaçar. Na aldeia em que estava exilado, as mudanças começavam a acontecer e o povo cedia às novas ideias. Okonkwo pensava que em seu lugar de origem os homens seriam mais firmes e não seriam
dominados tão facilmente, mas estava errado.

Os europeus chegaram de forma pacífica na comunidade através do cristianismo e, aos poucos, começaram a propagar suas ideias. Conversavam com os líderes e debatiam as divergências religiosas e culturais. Com o tempo, mães que não queriam que seus filhos gêmeos morressem, pessoas que eram desprezadas pela comunidade e curiosos começaram a interessar por aquela nova religião que lhes estava sendo apresentada e os recebia de braços abertos.

Certo dia, os missionários solicitaram um pedaço da terra para que pudessem construir o templo. A fim de prejudicar a estadia desses homens, foi-lhes entregue um local considerado amaldiçoado pela crença local. Depois de um período, nada do que as supertições indicavam que aconteceria, ocorreram. Situações como essa impressionaram os aldeões e fortaleceram os brancos.

Após um tempo em que o cristianismo já estava tendo êxito na região, iniciou o processo de implantação de governo baseado no modelo europeu. Já não eram mais os deuses e espíritos ancestrais que tomavam as decisões, mas as leis dos homens brancos.

E os colonizadores prendiam aqueles que fossem contra a nova proposta implantada. O livro termina durante esse processo, que perdurou até o século XX no continente africano. Apesar de relatar a história de um determinado povo, podemos entender as diferenças de cosmovisão entre europeus e africanos e como o embate entre elas pode ser cruel.
O autor Chinua Achebe
Imagem retirada do Google

A forma como o autor divide os acontecimentos e como relata a história, nos permite vivenciar as diferentes fases da vida de um integrante do povo ibo. Achebe retrata os sentimentos e pensamentos e monta com o perfil psicológico dos principais personagens, nos fazendo compreender o real motivo dos seus comportamentos.

A cada capítulo, a história se desenrola e nos envolve. Alguns momentos nos prendem a atenção e desejamos continuar a leitura para saber o que acontecerá. O mesmo pode-se dizer acerca do desfecho da obra, que termina de forma surpreendente.

É uma leitura bem diferente, pois é a visão de um africano acerca de seu próprio povo e escrita com base na tradição oral. Intrigante e envolvente, “O mundo se despedaça” nos traz um rico conhecimento histórico-cultural através de um enredo fascinante pelo interior do continente africano.


Referência Bibliográfica: ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo: Companhia das Letras,

2009.