sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A menina sonhadora (parte 1)


E aquele quarto, todas as noites abrigava a menina sonhadora. Em meio aos lençóis rosas, ursos de pelúcia e poesia, ela já não era mais uma adolescente, mas ainda não tinha desistido de sonhar.

Sonhar com o final feliz, que não precisa ser igual dos filmes. Só precisa ser feliz. Sonhar com o príncipe, que não precisa ser igual aos contos de fada. Só precisa encontrá-la.


A menina sonhadora junta as peças do quebra-cabeça todos os dias. O quebra cabeça tem um Criador e é o Rei. Aquela menina não sabe disso, não sabe que é filha do Rei e que Ele é quem sabe montar o quebra-cabeça. Ela tenta encaixar as peças, mas não consegue. De vez em quando, surge alguém, espalha tudo novamente e o trabalho recomeça.


Mas ela é filha do Rei e não entende que o desenho final, só Ele conhece. Ela é inocente. Pobre menina sonhadora. Não sabe que nem precisava se esforçar. Ela não entende que não precisa “quebrar a cabeça” para construir o quebra-cabeça de sua vida.



Tão triste ver as peças espalhadas.

Foto: Samuel Lima (Insta: @photo.samuel_)


Elas se espalham quando a menina sonhadora, que é uma princesa e não sabe, se olha no espelho. O reflexo a faz lembrar que ela não é parecida com as moças bonitas da revista. Seu cabelo não é tão liso e o formato de seu corpo nada tem a ver com a “perfeição” das mulheres da TV.

“Ah, como eu queria ser igual àquela atriz”, sonha a menina sonhadora. Mas, isso não é possível. O formato do seu corpo, o seu cabelo, o nariz, criados pelo Criador, são só dela. Não tem ninguém igual a ela. 



Mas toda essa diferença bagunça as peças da vida. “Como o príncipe vai me encontrar assim? E quando ele me encontrar, é claro que vai preferir que seja mais parecida com a modelo da revista.”



 

E que trabalho o Criador tem para juntar essas peças. Por mais que ele tente explicar, a menina sonhadora só consegue ouvir a TV, a revista, a internet e as pessoas ao redor. Como fazê-la entender que ela é linda do jeito que é. Como explicar que, quando ela entender isso, mais bela ainda ficará e mais forte brilhará e o brilha ajudará o príncipe a encontrá-la.


Mas as peças foram pisoteadas, espalhadas e sujas durante anos. Ela ouviu o que não deveria ter ouvido e a fizeram sentir coisas que não deveria ter sentido.


São tantas peças, as peças da vida.


Quanto trabalho o Criador tem para juntá-las quando a própria menina é culpada por bagunça-las.



Peças desarrumadas de um coração bagunçado.


A menina sonhadora, aqui chamaremos de Amanda. Amanda tem como significado “digna de ser amada”. Amanda pode ser qualquer menina sonhadora, em qualquer parte do mundo. Todos sonham e, principalmente, todas são dignas de serem amadas.

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O problema é que nem todas sabem disso.


E, como Amanda, correm atrás de um amor. Ela não sabe que o amor é que tem que correr atrás dela.


Amanda vive como se não tivesse significado.

Implora pelo amor de quem não tem amor para oferecer. Amanda não sabe de nada e o Criador chora ao vê-la chorar. Mas ela acha que está certa.



O coração da menina sonhadora é tão frágil que a porta já fica aberta para quem quiser entrar.



O Criador gostaria de ser o porteiro, mas a menina acha desnecessário.


Então ela deixa alguém entrar e fazer morada. Ele entra, desarruma o coração já despedaçado. Ele entra, mora por muito tempo e sai, sem nem ao menos ter consciência da bagunça que fez.


E isso acontece uma, duas, três, quatro vezes…



E as peças daquele frágil coração, que estavam desorganizadas, agora estão ainda mais em pedaços.




Mas, Amanda ainda acha que é a dona do próprio coração.

O Criador tenta falar com ela que Ele pode ajudar.


Mas ela não ouve.


Ela não quer ouvir...


E se pergunta: "Porque tudo acontece com quem está ao meu redor, e nada acontece comigo?"


(continua...)

Um comentário:

NEUROSE ATÍPICA disse...

Que lindo Blog clarissa.
Você de fato Nunca perdeu o Romantismo sempre romântica.. Rs lindos textos